quarta-feira, 30 de julho de 2008

Anotações de um dia solitário

"As vezes é bom se sentir um pouco independente, mesmo que tomar um ônibus não signifique exatamente isso.
É, tô me sentindo um ET no meio da praça de alimentação, com o caderno aberto, sozinha.
Em que lugar do Brasil, mais especificamente em Recife, uma garota de 15 anos pegaria um ônibus ao invés de ir pra casa usar o computador? que garota chegaria num shopping para escrever e não para olhar as vitrines? Que garota tomaria chá ao invés de Coca-Cola? Eu.
Gosto de andar de ônibus, me faz refletir. É um meio de socializar sendo anti-social. Saio de casa, vejo gente, mas não interajo. Muito mais divertido imaginar histórias sobre as pessoas do que escutá-las contando. Por exemplo, ali adiante, existem duas jovens que conversam, aparentam ter seus vinte e pouco, quase 30. Uma está de saia e a outra de calça. Comem vorazmente. Uma é loira e outra morena. Há quanto tempo será que se conhecem? Um ano? A vida toda? Podem ser primas. Elas têm cara de quem cursa administração, só que no momento são gerentes de supermercado.
A garçonete mais ao longe recolhe a bagunça. Será que há 24 horas atrás ela discutiu com o marido ou teve uma prazerosa tarde de amor? Parece que o tédio é profundo pra ela. Ela agora conversa com uma colega de trabalho que por usar a mesma roupa acabo pensando que têm a mesma cara. Há um homem no meio delas, todo de azul , com cara de abestalhado. Ele não parece ter namorada. Talvez quando ele largar o serviço vá a um baile funk, ou talvez ele seja bicha. Tá segurando o cabo da vassoura.
Agora acaba de chegar uma mulher que aparenta ter passado por vários homens. Com que idade será que ela perdeu a virgindade? 13? 14?
Meu chá acabou.
Quem passa acha que eu to estudando.
Minha inspiração da tá acabando. Vou ligar pra minha mãe. Seja o que Deus quiser. "

pensando.

Escrever deixa as idéias claras, organizadas. Talvez isso seja útil apenas para quem pensa, e pensa demais. Os pensamentos transbordam para o papel.
Acho que é por isso então que as pessoas não gostam de escrever. Elas simplesmente não pensam e não tendo pensamentos não têm nada para escrever.
Concluo desse modo que as pessoas que escrevem são as pessoas que pensam. As pessoas que não pensam talvez levem uma vida mais pacata, longe das complicações criadas por aqueles que pensam demais.
Sim, porque pensar nos leva a questionar e a buscar soluções para tais questões nos fazendo pensar mais e mais. E no meio de tantos pensamentos nos atrapalhamos e sucumbimos à nossa própria incompetência de não conseguir pensar o suficiente. Claro, isso se refere aos mais fracos (leia-se: a maioria), pois os dispostos vão à luta e não se intimidam pelo emaranhado de seus próprios pensamentos, desatando de uma forma incrível esse nó por ele mesmo criado.
O pensar demais é o que recheia as páginas de todos os livros, escrever ajuda a desamarrar esse nó.

Acho que andei pensando demais.