Lá ia ela com as carnes das coxas balançando por entre o short jeans, o sol de 4 da tarde destacando sua cabeleira loura e penetrando na vista fazendo suas pupilas encolherem, realçando o azul de seus olhos. Caminhava torto, maravilhada com o vento, olhando pra baixo intimidada pelos olhares ao redor. Nunca soube se gostava ou não deles...
Ouvia de vez em quando umas gracinhas sem graça, umas piadinhas irritantes, mas não se irritava. Decidiu mudar o rumo da caminhada, pegou um caminho maior só pra ver as folhas caindo das árvores, só pra enterrar as alpercatas na areia, só pra sentir a brisa fria no rosto, só pra ver crianças brincando, só pra ver passarinhos procurando migalhas, só para ver as formigas trabalhando arduamente na construção do formigueiro, só pra ver o vendedor de picolés destrocar uma nota grande, só pra ver o mendigo dormindo no banco, só pra ver o pipoqueiro sem pipoca, só pra ver o jardineiro paquerando a cozinheira da casa da frente, só pra ver os meninos jogando bola, só pra ver o lodo do lago, só pra ver o jornaleiro fumando cigarro, só pra ver o advogado passeando com o cachorro, só pra ver a menina levar uma queda da bicicleta, só pra ver o cimento seco com uma pegada presa, só pra ver o bebê tomando sol, só pra ver a babá conversando com o soldado, só pra ver o pai ensinado o filho a amarrar o sapato, só pra ver a natureza interagindo com o homem, só pra ver como as pessoas se tornam mais puras nesta hora da tarde, só pra ver, talvez, quem sabe, ... ele. E ele não estava lá.