terça-feira, 22 de novembro de 2011

A chegada do ar condicionado

Existe uma árvore na minha janela. Ela, em breve, sumirá através do escuro do vidro.
O obscuro olhar logo chegará. Sim, oh, tempos de frio e trevas.
Dois buracos negros estão à minha frente. Sugam minhas forças. A brisa leve que agora me embala num berço de madeira e ferro, logo será desativada.
Sim, tempos de trevas, tempos de gelo.
E a árvore solitária poderá curtir o sol sozinha. Suas folhas não mais cairão em minha mesa - voarão direto para o fogo do crepúsculo, queimarão junto com meus curtos dias. Elas em febre, em chamas; eu em gelo, enclausurada.

Tinha uma goteira na sala

Cada pingo no balde é um segundo líquido. E assim, no meio da aula, vou contando meu tempo. O balde enche e minha vida esvazia. Naquela água suja estão meus segundo perdidos, minha vida passada.

Era uma tarde quase quente

O perfume da mexerica incensa essa aula. O tédio é espesso. O professor engomado cospe tudo o que aprendeu durante o mestrado e o doutorado. Os alunos, sonolentos, continuam sonolando, sem se importarem com o passarinho que, do lado de fora, desesperado, tentava atravessar a janela.
O vidro, essa barreira invisível daquela pequena vida. É quando a gente não consegue mais passar de um certo ponto e não sabe o porquê. E aí, como o passarinho, nos jogamos com todas as forças. Uma hora o vidro quebra. Ou uma hora o nosso bico parte-se. Talvez seja hora de voar para outro lado , mudar de rumo. Pobre pica-pau. Que triste pica-pau que somos.
Os caroços da mexerica agora já rolam longe, tentando em vão germinar o chão. É como o professor que fala, fala e fala sem plantar nada na cabeça de ninguém. Se o tempo não existisse, essa demora poderia ser infinita. Se o tempo não existisse, o infinito poderia então existir? O que limita o infinito é o tempo? Infinito limitado, essa é boa. Essa é a duração da aula.

Amor sem causa

Amor sem causa. Não há causa para o amor. Será assim todo amor, sem explicação? Ou cada amor tem uma causa? Ou para cada causa um amor?