quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Agora que estou no último ano, uma reflexão sobre a minha vida escolar. 01/02/2009

Tentei uma iniciação na vida escolar aos dois anos, mas não funcionou – eu era muito avançada para a minha idade. Fui educada até os quatro anos pela minha mãe, em casa, quando então conheci o lugar que mais tarde eu passaria a chamar de segunda casa – o colégio.

Naquele universo de seres idênticos a mim, de cores, letras e números, eu me destacava pela minha rápida evolução intelectual. Aprendi lá desde os números romanos até a dar laços nos meus cadarços, desde ler até brincar de pega-pega, desde o descobrimento do Brasil até o futebol com os garotos. Aprendi a viver em sociedade, a notar que a babá tinha menos condições sociais do que o menino briguento da minha classe, que havia gente chata e ruim e gente legal e boa. Descobri que a diretora botava medo em todos, menos nas mães e que ela, de um jeito muito bizarro, se vestia de papai Noel todos os anos como se nós não soubéssemos que era ela disfarçada.

Mudei de colégio de tão avançada que estava. Pulei um ano e descobri caras novas que aos poucos substituíram alguns velhos amigos que se perderam nas memoráveis brincadeiras de elefantinho colorido da antiga escola.

Vivi uma fase em que eu era o objeto de curiosidade, eu era a novata. E aprendi a lidar com isso, embora sentisse falta dos antigos. Então, com a participação não apenas de um, mas de dois colégios, eu aprendi a ser novata. E essa era mais uma de todas as fases das quais o ambiente escolar presenciou. Conheci Maria, Pedro, Carol, Ísis, Herbert e dezenas de iguais a mim. Aprendi lá desde polícia-pega-ladrão até a conviver com as diferenças, desde pular corda até aceitar que Bruna era cega e Lucas era surdo.

Aprendi que em todo canto existem pessoas chatas e ruins que acabam virando aquilo que é o contrário de amigo. Descobri que as pessoas tinham idéias diferentes e discutiam entre si e que todas as proparoxítonas recebiam acento.

Pude então usar calças jeans e usar canetas nas fichas (a moda eram aquelas com cheiro). Agora eu tinha um professor pra cada matéria e o direito de sair da escola sozinha. Descobri que nem todos os professores eram bons e alguns deles tiveram doenças graves. Mais tarde muitos nem lembrariam que eu havia tido aula com eles e outros passariam a me ligar todo o Natal desde os meus sete anos pra dizer que eu era especial.

E mais uma vez troquei de amigos, troquei de professores, troquei de amores, troquei de colégio.

Aprendi como se fazia uma prova e que muitas vezes devemos ser menos espontâneos porque aprendi também que os outros te julgam de forma inadequada. E lá tirei notas baixas, notas altas, discuti com professores e fiquei amiga deles. Descobri a importância de se usar um tênis Adidas e uma bolsa Kipling, descobri que panelinhas existiam, que a falsidade era constante entre as pessoas e me fechei para o alheio. Lá me tornei uma pessoa receosa, ressentida, cautelosa e observadora. Aprendi a ter bom-senso e a fazer cálculos. Descobri que os piores professores da face da terra podiam ser os meus e que nem sempre se é correspondido emocionalmente.

Estudei com o professor mais novo e o mais velho do colégio, Presenciei o bulling de perto e aprendi a ter respeito. Estudei os hormônios na aula de Ciências e passei a usar sutiã.

Todas as salas tinham ar-condicionado e o tempo do recreio havia diminuído bastante. Notei que haviam pessoas populares que todos babavam e não havia porquê e havia os excluídos que eram excluídos e não havia porquê.

Continuei nesse mesmo colégio, que embora repleto de defeitos, me cativou.

Chegou então o momento de maior expectativa da minha escolar – quando o meu número de matérias cresceu, meu intervalo encurtou e as aulas aumentaram.

As salas ficaram infestadas de alunos novos, que por estarem em grande quantidade não eram objeto de curiosidade como fui por duas vezes.

E dessa vez eu aprendi a estudar. Expandi radicalmente minha rede de contatos e a quantidade de notas vermelhas. Notei que exatas nada tem a ver comigo e que a química particularmente não me agradava. Quase repeti de ano por causa da maldita.

Os professores se tornaram mais próximos e também menos severos. Tive a pior e mais ridícula coordenadora de todos os tempos e aprendi a não detestá-la (como ela fazia comigo) e sim a ter pena.

A presença masculina se tornou cada vez mais constante na minha vida e o estudo também. Descobri do que eu gostava e do que eu não gostava e assim o que eu iria fazer na faculdade.

Meus amigos cresciam exponencialmente assim como a minha liberdade. Festas se tornaram mais freqüentes e já não eram mais as discotecas da quarta série.

Descobri que não só eu havia crescido, mas todos que estavam ao meu redor durante todos esses anos e me espantei em notar que não éramos mais crianças, me espantei ao notar que aqueles com quem eu brincava de queimado estavam fumando maconha e se embebedando loucamente, que metade das minhas amigas estavam namorando sério.

Notei que a tapioqueira podia ser muito mais simpática do que alguns alunos que usavam Nike, que o guarda era muito mais educado que a professora, que minha vida não seria nada sem a escola em aspectos tanto culturais como sociais.

De todos os colégios pelos quais passei nunca chorei, excluindo as quedas que eu levava brincando de pega-pega na primeira série. De todos os colégios pelos quais passei eu dava uma gargalhada todos os dias. De todos os colégios pelos quais passei o que eu menos aprendi foi o conteúdo dado na sala de aula.