terça-feira, 6 de março de 2012

Minha angústia eterna

Essa angústia eu sei que vou levar pro resto da vida. A angústia de saber que nunca poderei fazer tudo o que quero, que nem todos os meus planos vão se concretizar. Não é pessimismo, é fato. O tempo é curto, a vida urge. Quando menos esperarmos, olharemos para trás com certa frustração.
Sentir-me-ei frustrada por não ter conseguido ver todos os filmes do mundo, sentir-me-ei frustrada por não ter ouvido todas as músicas que existem, por não ter conhecido todos os países do planeta, por não ter lido todos os livros já publicados, por não ter conhecido todas as pessoas interessantes.
Eu cursaria Cinema, História da Arte, Arquitetura ou publicidade com muito gosto. Ficaria feliz em estudar alemão, espanhol, francês e italiano. Adoraria fazer um mochilão pelo meu próprio país e aprender a ter mais orgulho dele. Também ficaria muito satisfeita em conhecer os países do Oriente Médio, Irã, Israel. A Europa, claro, é imperdível. Austrália, Estados Unidos, Japão, México. Todas as culturas me fascinam.
Queria trabalhar para a Reuters, estagiar num jornal local, ser repórter, apresentadora. Abrir meu estúdio de fotografia e me especializar em retratos, mas também ganhar dinheiro com books. Vejo-me sendo professora. Mas ainda penso em fazer concurso pra ter estabilidade.
Abriria também uma ONG para cuidar de animais abandonados e faria trabalho voluntário com crianças com câncer. Morar no exterior me atrai, mas eu amo minha cidade.
Quero casar e ter filhos. Mas também quero um tempo antes pra crescer na minha área e ter sucesso. Tenho medo, então, de não ver meus netos, de não ter ninguém pra me apontar num álbum de fotografia e dizer “olha, essa era Ursula”.
Adoraria morar sozinha num apartamento bem pequeno, com uma vista panorâmica. Casas, porém, também me agradam, daquelas com um jardim bem verde.
Queria aprender a tocar piano, saxofone e violino. Estudar música e fazer parte de uma banda. Lutar boxe, jogar tênis e fazer natação.
Viver grandes amores, ser casada, morar só, morar junto.
Nunca vou ter tempo o suficiente pra experimentar ser diferentes tipos de pessoas. Eu traço o meu destino, faço escolhas e elas vão me acompanhar pra sempre. Algumas escolhas muito bem avaliadas, mas outras simplesmente no chute porque a gente não tem ideia do que vem pela frente.
Minha eterna frustração vai ser nunca poder ter várias personalidades, diversos destinos, enfim, várias vidas. Porque eu queria ser tudo, ter tudo, saber sobre tudo.
Tenho ciência dessa minha eterna frustração. No entanto, faço o possível pra alcançar meus sonhos, realizar meus planos e desse jeito eu acabo vivendo muito intensamente, ocupando todo o tempo de que disponho.

Não entendo como certas pessoas não carregam consigo essa angústia e vivem do ócio, procrastinando e vivendo apenas por hábito. Viver é bonito, é rápido e nossa existência precisa de um sentido.
Tenho sede de tudo, quero tudo, e acabo sendo nada, me sentindo nada e incompleta sempre. E sei que é pra sempre. Não tem solução. Angústia eterna, vida fugaz.