terça-feira, 16 de junho de 2009

Estudantes fazem protesto em frente à reitoria da universidade federal de Pernambuco contra o vestibular unificado.

Estava marcado para noves horas da manhã do dia oito de maio. Nós (Alice, André Ribeiro, Mariana Costa, Diego, Gabriel, Luísa, Marina e Ursula) pegamos um ônibus perto do colégio e descemos cerca de 2km (?) distante da reitoria. Caminhamos debaixo de um sol escaldante (mas não o suficiente para nos desestimular); passamos por dentro do Hospital das Clínicas; atravessamos a BR sobre a passarela e caminhamos em frente à Sudene até chegar ao local combinado.
Ao chegar, encontramos um carro policial para "operações especiais" exclusivo da Universidade Federal de Pernambuco e meia dúzia de seguranças para conter as duas dúzias de estudantes que ali se encontravam. O carro da Rede Globo chega e os reporteres ficam à espreita.
Caracterizados com narizes de palhaço e munidos de apitos, os jovens começam a clamar por "Unificação não é a solução". Aos poucos mais jovens chegam, a maioria de colégios da elite recifense (um dos fatores pelo qual mais lutam é contra a abolição da língua estrangeira no Enem 2009).
Gritos como "palhaçada" e "querem maquiar a educação nesse país" ecoam. Mais jovens chegam e são recebido com vivas. A multidão invoca o reitor "Amaro, que papelão: não querer discutir a educação" e "Amaro, quem é você? Um reitor de mentirinha deve ser". O movimento aos poucos toma forma e vai crescendo, enquanto é aguardada a resposta da reunião que acontece dentro da reitoria.
Não apenas vestibulandos fazem parte do protesto, mas também alunos do ensino médio em geral, professores e alunos integrantes da universidade.
Cartazes como "UFPE: universidade ou ponto turístico?" e "Não somos cobaias" são impostos diante da porta de entrada principal.
Críticas são feitas em relação à democracia da universidade através do coro estridente que entoa "Universidade sem democracia: não deixa estudante entrar na reitoria" e "ah, eu já sabia: na federal não tem democracia". As pessoas começam a avançar para a porta da reitoria e o policiais começam a ficar tensos com a aproximação. Agora, mais e mais gente chega. Vê-se um cartaz "Somos o futuro da nação, não à unificação".
Um carro de som contratado pelo cursinho Nicarágua se aproxima, e, usando um microfone, uma estudante lê um texto dirigido ao reitor para saber a opinião geral, além de organizar a multidão.
Enquanto isso, saio à procura de banheiro e me deparo com a hospitalidade de certos funcionários que nos deixam usufruir de um relativamente grande e limpo. Longe do tumulto, é possível observar a imensidão do lugar, refletindo o desolador sol recifense. Por ali encontramos carros à disposição da universidade, parados.

O sol já ia alto, o suor escorria sem piedade e tampouco os jovens desistiam da luta. Tomados pela sede, saímos dos estacionamento da reitoria e fomos em busca de água. Acabamos comprando um abacaxi de um vendedor de frutas que, frustrado, não vendeu mais "águas" porque não sabia da manifestação.
Espalha-se o boato que se projeta uma invasão à reitoria (uma ideia insana, cá entre nós); a desorganização (não tão grande) não contribui para tal ato - o número de pessoas agora é grande o suficiente para fazer barulho, mas não o suficiente para promover uma mudança.

Derrotados pelo atro-rei, impiedoso, tirano, os estudantes se redem ao cansaço e se disperçam em grupos embaixo das sombras cada vez mais escassas.
Os jornalistas entraram na reunião (que era prevista para acabar às 12h) e foram proibidos de filmar e fotografar. Após várias tentativas, apenas um estudante foi permitido de entrar no local.
Em reportagem ao vivo, o NETV mostra o protesto em rede estadual. Até 12:40h ainda não se tinha notícias do que acontecia lá dentro. Enquanto isso, uma fila de carros aguardava tanto do lado de dentro do estacionamento como do lado de fora, impossibilitados de trafegar pelos estudantes que barraram os portões na tentativa de chamar atenção.
Quando fui embora nada havia sido decidido. Entretanto, o reitor permaneceu inflexível - fontes posteriores informaram - e aceitou o modelo que já estava sendo visado, ou seja, a utilização do Enem como a primeira fase do vestibular, inviabilizando as propostas sugeridas pelo grupo estudantil.
Não conseguimos as mudanças, mas pelo menos fizemos barulho - e é isso que falta no país, um pouco mais de voz.