terça-feira, 22 de novembro de 2011

Era uma tarde quase quente

O perfume da mexerica incensa essa aula. O tédio é espesso. O professor engomado cospe tudo o que aprendeu durante o mestrado e o doutorado. Os alunos, sonolentos, continuam sonolando, sem se importarem com o passarinho que, do lado de fora, desesperado, tentava atravessar a janela.
O vidro, essa barreira invisível daquela pequena vida. É quando a gente não consegue mais passar de um certo ponto e não sabe o porquê. E aí, como o passarinho, nos jogamos com todas as forças. Uma hora o vidro quebra. Ou uma hora o nosso bico parte-se. Talvez seja hora de voar para outro lado , mudar de rumo. Pobre pica-pau. Que triste pica-pau que somos.
Os caroços da mexerica agora já rolam longe, tentando em vão germinar o chão. É como o professor que fala, fala e fala sem plantar nada na cabeça de ninguém. Se o tempo não existisse, essa demora poderia ser infinita. Se o tempo não existisse, o infinito poderia então existir? O que limita o infinito é o tempo? Infinito limitado, essa é boa. Essa é a duração da aula.

Nenhum comentário: