quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A mensagem


Quase 10 da noite. Uma multidão de pessoas na parada de ônibus. Centro da cidade. Ruas escuras e uma ventania que traz consigo o odor fétido do lixo acumulado na calçada.
Cerca de 30 pares de olhos anseiam por avistar o ônibus. Ah, o amado ônibus que a esta hora voa pelas avenidas e nos conduz para o sossego de nossas casas.
À minha frente, uma jovem . Celular em punho, na altura dos olhos. Digitava. “Estou sentindo muito a sua falta, só agora percebo como te amo de verdade”. E naquele momento realmente a invejei. Invejei a sua hesitação em escolher as palavras certas, a falta de pressa em construir as frases. Invejei sua insegurança ao apertar o botão de enviar. Apagou, reescreveu, procurou por pontos e vírgulas. Buscou aspas. Parou, ajeitou o cabelo, olhou para o horizonte como se buscasse uma certeza. Parecia não ter pressa.
Ah, como eu gostaria de estar no lugar dela sentir um pouco desse sentimento confuso, sem nome. Ter dúvidas. Tentar a sorte outra vez.
Camaragibe (príncipe). Sem guardar o celular, a moça correu para o seu ônibus e partiu em busca dos seus sonhos.
Senti-me ainda mais amarga. Senti-me um vazio na noite. Peguei meu ônibus também, mas não tinha um rumo. 

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