sexta-feira, 31 de maio de 2013

Meu peixinho


Comida japonesa já não era mais moda. As temakerias tomavam conta da cidade, espalhavam-se como uma praga. E ela estava cansada de ser excluída dos jantarzinhos com hashis. Decidiu então iniciar-se no mundo oriental.

Marcou em uma temakeria famosa na cidade com duas amigas experientes nesse tipo de culinária. Pediu um Hot Filadélfia, o mais tradicional. Preferia não comer (ainda) coisas cruas. O pedido, que não demorou muito, chegou numa caixinha triangular. Ela fazia esforço para não sentir algum tipo de aversão àquela comida até então estranha. Passou muito tempo tentando encontrar a posição adequada para dar a primeira mordida: temia que o molho shoyo respingasse em sua velha camisa, e que a alga, que tão cuidadosamente abraçava aquele arroz, se desenrolasse e tudo se esfacelasse em suas mãos. Após alguns momentos, provou. E de súbito, um dos chamados cariocas, que compunha o recheio, escapou do temaki direto para seu copo d’água, como se, num relance de vida, aquele pedacinho de salmão tentasse retornar ao seu tão familiar mundo aquático. E ficou ali, boiando.

Passado o espanto, foi impossível não rir do inesperado incidente. Ela passou a chamar o carioca no copo d’água de “meu peixinho” até o garçom (que conteve a expressão de surpresa) vir e levá-lo de volta à cozinha. Ninguém realmente nunca entendeu como aquilo havia acontecido. 

Outros temakis vieram, as primeiras e segundas impressões – repletas de caretas, diga-se de passagem – se foram, mas o temor de ter outro peixinho à mesa sempre esteve presente. Comer temaki, de fato, não é para qualquer um. Comer temaki é uma arte. 

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