Comida japonesa já não era mais moda. As temakerias tomavam
conta da cidade, espalhavam-se como uma praga. E ela estava cansada de ser
excluída dos jantarzinhos com hashis. Decidiu então iniciar-se no mundo
oriental.
Marcou em uma temakeria famosa na cidade com duas amigas experientes
nesse tipo de culinária. Pediu um Hot Filadélfia, o mais tradicional. Preferia
não comer (ainda) coisas cruas. O pedido, que não demorou muito, chegou numa
caixinha triangular. Ela fazia esforço para não sentir algum tipo de aversão
àquela comida até então estranha. Passou muito tempo tentando encontrar a
posição adequada para dar a primeira mordida: temia que o molho shoyo
respingasse em sua velha camisa, e que a alga, que tão cuidadosamente abraçava
aquele arroz, se desenrolasse e tudo se esfacelasse em suas mãos. Após alguns
momentos, provou. E de súbito, um dos chamados cariocas, que compunha o recheio, escapou do temaki direto para seu
copo d’água, como se, num relance de vida, aquele pedacinho de salmão tentasse retornar ao seu tão familiar mundo aquático. E ficou ali, boiando.
Passado o espanto, foi impossível não rir do inesperado
incidente. Ela passou a chamar o carioca no copo d’água de “meu peixinho” até
o garçom (que conteve a expressão de surpresa) vir e levá-lo de volta à cozinha. Ninguém realmente nunca entendeu como
aquilo havia acontecido.
Outros temakis vieram, as primeiras e segundas impressões –
repletas de caretas, diga-se de passagem – se foram, mas o temor de ter outro
peixinho à mesa sempre esteve presente. Comer temaki, de fato, não é para qualquer um. Comer temaki é uma arte.
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